domingo, fevereiro 25, 2007

Great American Glories (V)

Esta não é a rubrica com mais sucesso deste blog. Mas não importa porque vou ser sincero... dá-me um especial gozo apanhar estas tão crassas manifestações de ignorância por parte de um colectivo que se arroga ter atingido um estado de avanço cultural neste planeta que roça o dignitarismo ético (eu sei, é uma apreciação superficial, mas superficiais são também tantas outras coisas que fazemos por aqui...). Então vamos lá a isto. Eu acabei agora mesmo de ver o filme Celestine Prophecy. Para quem não viu ainda, a acção decorre no Peru. Ora, o local de acção não é importante senão para efeitos deste post. Estamos a falar de umas ruínas perdidas lá para os confins do país onde, eventualmente, irá culminar o climax do filme. Está claro que, para efeitos narratológicos, as ruínas têm de ser explicadas ao público que gastou o dinheiro do bilhete. Portanto, estão o herói e o herói secundário que, como sempre nestes assuntos, sabe mais que o protagonista. O herói secundário está, então, a fornecer um certo insight (É um trocadilho! Vejam o filme, este trocadilho está um espectáculo! Eu fico maluco com o meu dom narrativo!) sobre as ruínas. E o herói em êxtase, a tentar interiorizar a magnitude do que lhe está a ser dito. O diálogo era mais ou menos assim:
Herói: «Uau, estas ruínas são magníficas!»
Herói Secundário: «Estas ruínas (cujo nome não me dignei a fixar - nota do tradutor) são antiquíssimas. Elas precedem a conquista espanhola».
(Pausa)
Herói Secundário: «Os Mouros».

Começa aqui a lição de História. Encontra-se estabelecido pela comunidade de historiadores em todo o mundo com um grau razoável de segurança que nunca houve um estado muçulmano na América. Vamos recordar então os principais estados colonizadores do continente americano? Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Holanda (e umas incursões pelos Suecos e Dinamarqueses, mas fiquemo-nos por aqui). Aqui vos deixo o mapa que mostra em traços gerais o auge da expansão muçulmana no mundo por volta de 1500.



Tomem nota que o Peru fica na costa ocidental da América do Sul e portanto a setinha devia estar do outro lado do mapa, mas ali no golfo da Guiné havia mais espaço. Por favor, notem o Oceano e continente de distância que separa África e o Peru propriamente dito. Notem ainda que até hoje não existe memória da queda de uma dinastia marroquina no Peru às mãos dos espanhóis que, como penso ser sabido, lograram conquistar ao invés o império inca.

(reprodução fiel de uma indígena inca)

ML

12 comentários:

CP disse...

...Há rubricas com sucesso no blog? Muito me contas caro amigo e colega :P

Anónimo disse...

Meu deus. Quando um gajo pensa que já não se pode inventar mais...Este post lembra-me uma conversa parecida. Só falta fazerem um filme sobre a expansão portuguesa com o D. Juan II ou o Vasco de la Gama...

KNOPPIX disse...

Sou mm anjinho! Pensava eu que este Blog todo ele era um sucesso, afinal só algumas rubricas o são...
Sinto-me enganado!!!!!
Mas voltando à vaca fria, o filme merece ser visto ou mais vale guardar o dinheiro para uma coisinha melhor, sei lá, um concerto do Michael Carreira na Feira do Cavalo?
Um abraço e boa semana para ti

Anónimo disse...

Isso lembra-me quando a minha professora de literatura inglesa 2 (uma senhora com mestrado e tal) vem com a tanga que a malta na Europa comia batatas na Idade Média... sendo que as batatas vieram desse continente onde só mesmo os indígenas «mouros» as papavam quando os conquistadores da península (portanto, os Vasco de la Gamas) deram com aquilo uns séculitos depois.

Carapaus com Chantilly disse...

le rachelet: como se pode ver num celebre episódio do Back Adder II no qual eles fazem tudo com as batatas recém "descobertas", até as fumam!
CP

Carapaus com Chantilly disse...

Knoppix: esta gente (eu incluido) só ficará satisfeita quando recusarem fazer um programa de televisão. eheh
CP

Carapaus com Chantilly disse...

Knoppix: Não sei se sou a melhor pessoa para fazer aqui a review do filme porque a minha sensibilidade pessoal leva-me a apreciá-lo de uma maneira que talvez não seja a mais canónica e que eu costumo chamar de "Teoria da Conspiração" em ficção histórica e que não era, nem de perto nem de longe, o cerne do filme nem nada que se pareça. Quanto ao resto, à «mensagem», por assim dizer, e os fundamentos a partir dos quais parte, a temática da demanda pelo auto-esclarecimento e maior compreensão do mundo que nos rodeia, diz-me pouco na concretização que tomou, pelo que a minha apreciação fica desse modo viciada. E como já fui ontem quase marcado como herege termino aqui a minha breve reflexão desejando paz e harmonia para todos. Peace, Fiona :)

PS: Este post não é uma crítica ao filme, mas a uma manifestação de ignorância que, para a economia narrativa do filme importa zero.

Le Rachelet: As Universidades são autênticos viveiros de pérolas, onde em aulas de Mestrado se pode inclusive lançar a pergunta sobre se afinal havia mais que um Cristóvão Colombo, um que era português e outro, aquele que andava a fazer descobrimentos para os Reis Católicos...

Cafigon: Quando fizerem esse filme, seguramente veremos aparecer um tipo chamado Hernán de Magallanes...

CP: Tem piada, eu tinha começado o post exactamente dessa mesma maneira só que depois cortei. É bom saber que julgas as minhas rubricas como eu as tuas :D

Peace Loving ML

Anónimo disse...

..mas nós já não sabemos que os "amaricanos" são uns verdadeiros incompetentes?!tudo o que não EUA não existe!

Aragana disse...

e quando ele dzia.. "os mouros" devia de existir assim uma daquelas musicas de fundo fantasmagóricas que insinuasse que eles estiveram em espirito.
(o que conta é a intenção)

Carapaus com Chantilly disse...

Naquele caso era tudo muito real, daí a ausência da musiquinha. Sabes como o Peru transpira cultura islâmica por todos os lados...

ML

Lu disse...

O homem queria dizer Marcianos e enganou-se. Afinal, foram os Marcianos que construiram o Machu Picchu, não foram?

Anónimo disse...

Ai Miguelito, Miguelito... És mesmo um ganda CROMO!!!!!!