Era uma vez um alegre rapazito que queria apanhar o autocarro vinte e três. Dirigiu-se pois então ao Marquês de Pombal, penetrando pelo meio da neblina de pó e fumo, vindos das escavações pseudo-arqueológicas que pretendem, ao que parece, encontrar um "túnel do Marquês". Depois de um longo caminho e dois quase atropelamentos, o rapazinho lá chegou ao seu destino, a paragem de autocarro. Maravilhado contemplou a placa suja e verificou que, de facto, o vinte e três passava por ali. Mas quando? - perguntava o rapazinho entusiasmado com a ideia de poder chegar a horas ao seu destino.
E o tempo, como tende a acontecer, lá foi passando. E com o tempo que passava, outros autocarros chegavam. O rapazinho viu passar o oitenta e três e o quarenta e dois, o autocarro dois e o que segue para um sítio com um nome demasiado estranho para que o rapaz o fixe.
Uma hora mais tarde, já cinco oitentas tinham por ali passado, seis dois, quatro quarenta e dois e o vinte e três nem vê-lo. O rapazinho, já com lágrimas nos olhos, começou a olhar à sua volta procurando um qualquer sinal de esperança. Apenas avistou os sinais de via em obras, agradece mos a sua compreensão! Mas compreensão era algo que o rapazinho já não podia ter. A esperança de chegar a horas, há muito tinha partido, tal como a paciência do rapaz que, olhando já com ódio para a plaquinha amarelo-sujo, murmurou algumas palavras impróprias para serem lidas por gentes de bem.
Passados mais vinte minutos, eis que surge o vinte e três. A fila já vai longa e o rapazinho, já desesperado, ao entrar no autocarro tropeça, ficando para trás. Quando consegue finalmente entrar, lugar para ele ninguém guardou, oh boas são as almas de lisboa, e o rapazinho de pé ficou, esborrachado contra um sovaco alheio.
Moral:
Quem espera o vinte e três, vê passar muitos oitentas e três, dois, quarenta e dois e mais uns quantos. Apenas ganha um enorme trinta e um!
CP
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