terça-feira, janeiro 16, 2007

Grandes Portugueses

Não vos saberia dizer o que me levou a escrever um post tão impreparado e mal pensado como este. Para vos ser franco, o mecanismo é mais ou menos o seguinte: "Eu até tenho a password de um blog onde me posso entregar livremente a manifestações de indignação e mandar todo o tipo de bojardas sem ter de me preocupar seja com o que for. Por isso, acho que me vou entregar livremente a manifestações de indignação e mandar todo o tipo de bojardas sem me preocupar seja com o que for". É que, ao contrário dos nobres propósitos que presidiram à fundação deste blog, eu nem sequer vou tentar atingir um nível mínimo de humor para agradar aos dez milhões menos 9,999, 940 portugueses que nos visitam diariamente. Eu cá vou fazer como num primeiro encontro e deixar-me ir e ver o que é que sai.

Para os que já me estiveram a ouvir no messenger esta noite, o tema é óbvio. Os Grandes Portugueses (para os outros também, basta olhar para o título). E como vos digo, não tenho um plano pré-definido para começar a bater na ideia mais pobremente executada da RTP nos últimos tempos.

Oh, eu nem sequer vou pegar nos resultados. Porque acho que quando uma nação vai a votos e o Hélder Pestana aparece numa 79.ª posição à frente de Gil Vicente e Almeida Garrett... quer dizer, para quê, não é? Ok, pronto, então eu pego só um bocadinho nos resultados e na completa e absoluta falta de consciência temporal e do que é o seu país que os portugueses têm. Mas vou limitar-me aos que se ficaram abaixo da 10.ª posição até à 100.ª, que também podem ver aqui.

Acho que depois do choque inicial de ter visto tanta figura ligada ao mundo do espectáculo (desportivo, musical, televisão), que tentativamente agrupo na designação conjunta de entretainers (e que também a mim me entretêm, não tenho porque o negar), foi ter reparado como mais de metade dos eleitos eram figuras públicas bastante próximas às vivências dos vários escalões etários deste nosso Portugal. Aqui passam-se duas coisas. Ou três. Por um lado, as pessoas não conseguem evitar sentir a sua "portugalidade" a partir de um tempo muito curto, o da sua vida ou o dos seus pais/avós, manifestando assim quão ténue se manifestam os oito séculos de vivências e construção cultural no que se hoje se conhece por «Portugal» ou «portugueses»; por outro, a esta ausência de dimensão temporal junta-se uma mostra muito curiosa dos ritmos da "portugalidade" contemporânea, ritmos que são fundamentalmente do político e do espectáculo; por último mostra finalmente o alcance da vida de muita gente que, perdoem-me a expressão, mas cacete, conseguiram fazer com que o Eça de Queiróz ficasse atrás de uma figura cuja façanha na vida é fabricar campeonatos de futebol!!

Como se diz por aí, pelo amor da santa, é que até o Vítor Baía, que até é um frangueiro do caraças, mereceu honras de votos, imediatamente depois do D. Afonso III, e acima do Bartolomeu Dias. Mas por outro lado também estou certo que aos adeptos mais acérrimos do FC Porto será de pouco monta o feito da conquista final do Algarve, por isso, porque não?

Não sei se devo falar do tremendo erro crasso que foi fazer esta votação fora dos circuitos normalmente utilizados para eleições e referendos porque permitiram que cada zeca e pitinha com meio cérebro, mas com telemóvel e acesso à internet pudessem votar. E para expiar uma falha destas, nem o sacrifício de toda a gente que votou no Hélio Pestana, personagem que, confesso, tive mesmo de perguntar de quem se tratava, bastaria. Porque a vergonha ficará recordada nos anais.

E é falando de anais e de todas as sensações fétidas para que a palavra me remete que passaria a comentar a escolha dos "advogados"dos dez mais votados, que era o propósito inicial deste post, motivado pelo programa de hoje à noite da Maria Elisa. Mas para ser franco acho que vou continuar esta conversa outro dia, porque para essa discussão, só indignação não é suficiente e esta já vai longa.

ML

6 comentários:

Anónimo disse...

eu devo confessar que até fiquei espantada por entre os 10 mais não aparecer a floribela!Mas depois cheguei à inevitável conclusão: não podiam ter 10mais vivos - imaginem o que teriam que lhes pagar? e depois as entrevistas?Imaginem lá a Floribela a dar uma entrevista!?

Quem diz que somos um país culto?Daqui a uns tempos a taxa de analfabetismo será quase igual à do tempo do excelso D.Afonso Henriques!

Anónimo disse...

Gostei particularmente do momento em que a Maria Elisa lamenta que não haja mulher alguma nos 10+, mas depois comenta que em 100, temos 19 gajas, o que sempre é melhor que a Inglaterra e a França.

Sim, porque Portugal só vale quando comparado com os outros países. E é com orgulho que andamos aí no topo das listas europeias... de bêbados, d acidentes de viação, de inflacção, de desperdício ecológico... Somos os cabecilhas dos fundilhos.

Rafeiro Perfumado disse...

Confesso que relativamente a este tema ainda só me indignei com um poste num blog qualquer, em que se mostrava indignação pelo facto de Salazar constar na lista dos 10 e naturalidade pelo Pinto da Costa constar nos 100. Respondi que tinha muito mais respeito pelo Salazar do que pelo PC, isto apesar de abominar o Salazar. E não me indigno mais porque estou-me a borrifar para este tema. Querem saber quem é o maior português? Perguntem-me! D. Afonso Henriques, sem sombra de dúvidas. Não fosse por ele e neste momento estaríamos a discutir quem era maior, se Cervantes se o Morientes!

Carapaus com Chantilly disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carapaus com Chantilly disse...

A mim indigna-me ver como tudo aquilo é claramente manipulado pela RTP e demais lobbys. Como é possível que depois de todo o meu esforço, dos meus familiares e amigos, todo o investimento em números de telemóvel e depois da perda de impressões digitais devido à escrita e envio de quantidades absurdas sms's, que o RAP conste da lista e eu nao?
CP

Carapaus com Chantilly disse...

Possa mesmo assim ficou mal escrito...epa n vou mudar mais vezes.... vcs perceberam a ideia mesmo com os erros de ortografia...espero eu!