domingo, agosto 09, 2015

Miguel Gonçalves ou como a vacuidade pode ser divertida

Confesso que quando o vi pela primeira vez foi no programa da RTP Prós e Contras há já algum tempo e fiquei impressionado. Não sei se é pelas expressões caricatas ou pelo sotaque mas fiquei surpreendido com o que ouvi. Entusiasmado até. Epá, aqui está um tipo que sabe falar e sabe o que fala, é assim mesmo - pensei. O problema é que passados 10 minutos apercebi-me que o Miguel, sendo um orador do caraças, não diz nada. O rapaz limita-se a reformular os problemas e a apresentá-los novamente à audiência - sim, de uma forma muito mais interessante e, atrevo-me, mais inteligente mas não deixa de ser a mesma coisa. E o que é que ele traz de novo à discussão? Basicamente uma noção que mais não é do que aquilo que os nossos avós, os nossos pais, os nossos professores e os nossos amigos sempre nos disseram: que se queres ser alguém nesta vida tens de trabalhar muito, que isto (viver/ter uma emprego) não é fácil, que nada na vida se consegue sem esforço. Isto, meus amigos, é nada. Não é o abrir os olhos que tanta gente acha que ele está a fazer. É apenas aquilo que já ouviram tantas e tantas vezes mas agora dito por um tipo que vocês nunca viram antes e que fala com garra e sotaque. Na verdade estão a cair na esparrela das gajas americanas que sucumbem a um sotaque britânico (ou das britânicas que sucumbem a um sotaque algarvio) com a diferença de que vocês se deixam levar por um sotaque nortenho.

No fundo, o Miguel é um gajo que um dia se apercebeu que redefinir o banal é uma boa ideia. E é. Para ele. E para alguns outros bons oradores. Mas é só isso. Não é uma solução. O que ele gloriosamente nos apresenta é um vazio de ideias. É um impulso enorme para o nada. Claro que a solução não é enviar currículos e esperar que o mundo mude. Claro que a solução é tirar o cu da cadeira (não tenho os dotes verbais no Miguel mas tentem ler esta última frase com sotaque nortenho e verão como soa logo melhor). Claro que é preciso ir ter com as empresas. Claro que é preciso ter boas ideias. E aqui chegamos ao grande problema do Miguel. O Miguel pertence ao grupo de pessoas que efectivamente teve uma boa ideia: dizer ao pessoal que é preciso ter uma boa ideia. Mas fá-lo com um sotaque à maneira, e com umas expressões levadas da breca, lá isso é verdade.

E com isto, quero anunciar que já podem comprar o meu novo livro de auto-ajuda "Como vencer na vida.". Não se preocupem que é um livro muito fácil de ler pois na verdade só tem uma página escrita e nessa página só está escrito "Primeira e última lição: pare de ler livros de auto-ajuda e faça qualquer coisa. Se ainda está a ler isto, falhou. Tente novamente."