Não vos saberia dizer o que me levou a escrever um post tão impreparado e mal pensado como este. Para vos ser franco, o mecanismo é mais ou menos o seguinte: "Eu até tenho a password de um blog onde me posso entregar livremente a manifestações de indignação e mandar todo o tipo de bojardas sem ter de me preocupar seja com o que for. Por isso, acho que me vou entregar livremente a manifestações de indignação e mandar todo o tipo de bojardas sem me preocupar seja com o que for". É que, ao contrário dos nobres propósitos que presidiram à fundação deste blog, eu nem sequer vou tentar atingir um nível mínimo de humor para agradar aos dez milhões menos 9,999, 940 portugueses que nos visitam diariamente. Eu cá vou fazer como num primeiro encontro e deixar-me ir e ver o que é que sai.
Para os que já me estiveram a ouvir no messenger esta noite, o tema é óbvio. Os Grandes Portugueses (para os outros também, basta olhar para o título). E como vos digo, não tenho um plano pré-definido para começar a bater na ideia mais pobremente executada da RTP nos últimos tempos.
Oh, eu nem sequer vou pegar nos resultados. Porque acho que quando uma nação vai a votos e o Hélder Pestana aparece numa 79.ª posição à frente de Gil Vicente e Almeida Garrett... quer dizer, para quê, não é? Ok, pronto, então eu pego só um bocadinho nos resultados e na completa e absoluta falta de consciência temporal e do que é o seu país que os portugueses têm. Mas vou limitar-me aos que se ficaram abaixo da 10.ª posição até à 100.ª, que também podem ver
aqui.
Acho que depois do choque inicial de ter visto tanta figura ligada ao mundo do espectáculo (desportivo, musical, televisão), que tentativamente agrupo na designação conjunta de
entretainers (e que também a mim me entretêm, não tenho porque o negar), foi ter reparado como mais de metade dos eleitos eram figuras públicas bastante próximas às vivências dos vários escalões etários deste nosso Portugal. Aqui passam-se duas coisas. Ou três. Por um lado, as pessoas não conseguem evitar sentir a sua "portugalidade" a partir de um tempo muito curto, o da sua vida ou o dos seus pais/avós, manifestando assim quão ténue se manifestam os oito séculos de vivências e construção cultural no que se hoje se conhece por «Portugal» ou «portugueses»; por outro, a esta ausência de dimensão temporal junta-se uma mostra muito curiosa dos ritmos da "portugalidade" contemporânea, ritmos que são fundamentalmente do político e do espectáculo; por último mostra finalmente o alcance da vida de muita gente que, perdoem-me a expressão, mas cacete, conseguiram fazer com que o Eça de Queiróz ficasse atrás de uma figura cuja façanha na vida é fabricar campeonatos de futebol!!
Como se diz por aí, pelo amor da santa, é que até o Vítor Baía, que até é um frangueiro do caraças, mereceu honras de votos, imediatamente depois do D. Afonso III, e acima do Bartolomeu Dias. Mas por outro lado também estou certo que aos adeptos mais acérrimos do FC Porto será de pouco monta o feito da conquista final do Algarve, por isso, porque não?
Não sei se devo falar do tremendo erro crasso que foi fazer esta votação fora dos circuitos normalmente utilizados para eleições e referendos porque permitiram que cada zeca e pitinha com meio cérebro, mas com telemóvel e acesso à internet pudessem votar. E para expiar uma falha destas, nem o sacrifício de toda a gente que votou no Hélio Pestana, personagem que, confesso, tive mesmo de perguntar de quem se tratava, bastaria. Porque a vergonha ficará recordada nos anais.
E é falando de anais e de todas as sensações fétidas para que a palavra me remete que passaria a comentar a escolha dos "advogados"dos dez mais votados, que era o propósito inicial deste post, motivado pelo programa de hoje à noite da Maria Elisa. Mas para ser franco acho que vou continuar esta conversa outro dia, porque para essa discussão, só indignação não é suficiente e esta já vai longa.
ML