segunda-feira, agosto 10, 2009

Incauto

Imaginai o seguinte cenário: Domingo pela tarde, feijoada pelo almoço. Sedimentos atrás de sedimentos de feijão (daquele castanho, que é para ser pesado) preenchem um estômago já moldado pela pizza do dia anterior e pelas torradas da manhã. Anos de experiência acumulada permitem antecipar o inevitável escape de detritos acumulados. Ying e Yang. Pressão e Alívio. E porque estes momentos de reequilíbrio cósmico, ao efectivamente estimularem a reflexão e a actividade intelectual em geral, se afirmam como momentos culturais por excelência, sucede muitas vezes uma recolha incauta de um qualquer folheto, periódico ou livro para fruir esse precioso momento de fervilhão ontológico. Incauto o gesto? O seu actor? Ambos? Sim, porque o que fazer quando recolhemos um livro do José Saramago? O que fazer quando não há mais detritos para expulsar, mais sedimentos para fermentar? O que fazer quando a dinâmica interior termina e a actividade intelectual perde o seu catalisador? O que fazer quando não há o raio de um ponto final, de um parágrafo evidente que nos permita dizer: «aqui pararei, aqui retomarei»? Aqui me poderei levantar. E limpar o rabo. Que esta merda está a secar.

ML

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