sábado, dezembro 25, 2004
Tu és a luxúria a cintilar...
Por vezes parece-me, ao analisar alguns dos comportamentos humanos, que nunca nos consolamos e que não nos satisfazemos com pouco. É típica a nostalgia natalícia... muitas vezes encontram-se pessoas que não têm qualquer razão para estar deprimidas. Apesar de eu achar que 50% dessa sensação se deve ao Fado, penso que o remanescente se deve, no mínimo, à inconsciência social, económica e política das pessoas. Muitas vezes parece-nos esta época falsa e quebrável, uma jarra no topo do pedestal que acabamos por não deixar cair empurrando-a suavemente com a ponta de um dedo. A próxima pergunta será: pq é que é um sentimento comum? Também não sei. Mas não fui eu que lancei a bomba atómica, nem sou o bêbado que bate na mulher durante a consoada, nem o puto rebelde que oferece facadas às esquinas. Muito menos entrego droga no cais ou condeno alguém à pena de morte. Também não sou o menino jesus, e não estou à espera que o natal seja passado nas palhinhas... há quem não tenha uma perna, um braço, uma mão. Há quem não tenha pai, mãe, há quem não tenha os dois. Pior, há mesmo quem tenha perdido os filhos todos de uma vez e tenha ficado numa cadeira de rodas. Talvez por isso não nos devessemos lamentar interiormente, e ter uma expectativa demasiadamente consumista do Natal. Podíamos tentar às vezes ser um pouco mais humanos, e sermos felizes por os outros estarem a receber mais prendas do que nós. Porque isso também poderá ser um motivo de felicidade. Afinal o mundo será sempre diferente visto do chão ou do topo da cadeira... Essa elasticidade é apenas a do nosso coração. O dia de hoje é, no fundo, um dia como outro qualquer. Os cães, por exemplo, não notam a diferença. Certo?
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