domingo, julho 29, 2007

The five stages of sneeze ou a balada do homem alérgico

O Homem Alérgico, também conhecido por homo flos de estufa, atravessa cinco fases distintas na forma como lida com a sua alergia.

A primeira é a fase da Negação: o Homem Alérgico começa a sentir os primeiros sintomas nos rebordos das suas cavidades nasais, com a liquidificação progressiva da mucosidade. É a fase das fungadelas, da gotinha de ranho recolhida a tempo para dentro da narina e directamente para o aparelho digestivo e da ocasional espirradela. Nesta fase, o Homem Alérgico está plenamente convicto que tem controlo total sobre si e sobre o seu corpo e que evitará o pior;

A segunda é a fase da Raiva: o Homem Alérgico espirra descontroladamente e qualquer coisa que lhe dizem parece uma ofensa pessoal, protestada imediatamente com uma série de bojardas mandadas à praça sem pensar. Treme por todos os lados de exaustão e não consegue fazer nada;

A terceira é conhecida por a fase do Suborno: nesta fase, em que o Homem Alérgico inspira ar e expira ranho, compreende finalmente a necessidade de ir à farmácia comprar os comprimidos para a alergia - de nada lhe servirão, pois demorarão cerca de meio dia a fazer efeito;

A quarta é a da Depressão: esvaído em ranho, o Homem Alérgico contempla o Infinito, apático, sem reacção. É o momento por excelência de ascensão espiritual, de vacuidade total do seu Ser;

A quinta e última fase é a da Aceitação: confrontado com a sua impotência nasal, o Homem Alérgico deixa-se cair na cama, no sofá ou em qualquer coisa que o valha, aceitando que nesse dia a capacidade de articular duas acções minimamente complexas está em coma profundo ou foi de férias e mais vale fechar os olhos e apagar nas próximas horas.

ML

Nota: esta última fase pode ser seguida por mais cinco, que correspondem ao reiniciar do ciclo, mas desta vez na cama, impedindo a pessoa de realmente descansar senão daí a várias horas.

quinta-feira, julho 26, 2007

O mais forte

Recentes eventos da minha vida pessoal que o anonimato obriga à confidencialidade levaram-me a formular a seguinte pergunta: quem é superior a quem, o Homem à Mosca ou a Mosca ao Homem? O Homem combate ratos, baratas e moscas há séculos e penso que está na altura de determinarmos de uma vez por todas, pelo menos para as moscas (já que os ratos são queridos e aceitáveis em ambiente familiar e as baratas nojentas e eu tenho medo delas) quem é quem neste jogo de forças. Vejamos os seguintes cenários:

Mortes derivadas de picadelas de moscas - Nenhum caso conhecido em Portugal
Sinistros nas habitações humanas provocados por mata-moscas - Incontáveis

Homem: 1 Mosca: 0

Capacidade de desconcentração provocada pelas moscas a quem escreve teses durante o calor do verão em que é necessário ter as janelas abertas - Enervante
Capacidade de desconcentração provocada pelos homens no processo natural de propagação da nojeira das moscas - Insignificante

Homem : 1 Mosca: 1

Capacidade que a Mosca tem de irritar o Homem com o seu errático esvoaçar, que no último momento se desvia do seu vôo directo rumo à janela e para fora da nossa casa - Indescritível
Capacidade do Homem de enervar a mosca para a expulsar de sua casa - Risível

Homem : 1 Mosca : 2

Capacidade que a Mosca tem de pôr um Homem que vive num rés-do-chão a fazer figura de Urso para os vizinhos que estão a passar enquanto gesticula freneticamente pela casa sem razão nenhuma aparente - Inclassificável
Capacidade que o Homem tem de pôr a Mosca a fazer figura de Ursa em qualquer circunstância possível e imaginária - Nula

Homem : 1 Mosca : 3

Conclusão final: [Censurado]

ML

Nota: Este post é melhor fruído enquanto se ouve a música do Tsubasa.

quinta-feira, julho 19, 2007

Diário de Alfredo (III)

Quarta-Feira:

Cada vez percebo menos as mulheres. Sempre me disseram que a chave para uma boa relação estava na compatibilidade e na partilha de gostos. Na última sexta-feira saí novamente com a mulher que me tem feito feliz no último mês, a Filipa. Tudo parecia estar bem quando, de repente, ela começa com uma conversa estranha de que não se sentia bem. Disse-lhe que a compreendia e que também estava indisposto. Avancei com a minha hipótese de que a nossa indisposição teria origem nos calamares que tínhamos acabado de comer e que eu suspeitava estarem fora do prazo... ou vivos! Juro a pés juntos ter visto uns quantos saltar do meu prato e esconderem-se debaixo da mesa.
A Filipa recusou ouvir a minha teoria de que os calamares ainda estariam semi-vivos e afirmou que se estava a sentir mal com a nossa relação. Foi nessa altura que me pareceu que talvez a indisposição dela não fosse devido aos calamares e perguntei-lhe o que se passava. Ela insistiu em fazer algo que nunca entendi, perguntou-me se eu não via os sinais. Que descaramento! Mas quais sinais? Quanto muito vi umas luzes, um pisca-pisca vá. No máximo dos máximos, vi uns mínimos. Agora sinais? Mas afinal é uma mulher ou uma bicicleta? E serei eu um controlador aéreo? Sinais. E eu sei que sou meio míope mas acho que há maneiras melhores de dizer a alguém para mudar de lentes.

Enfim, depois de discursar sobre os sinais durante uma boa meia-hora, perguntou-me se eu ainda estava a prestar atenção. Disse-lhe que sim. Para os que estão a duvidar de mim, não eu não menti. Até então tinha estado a prestar atenção. Depois disso é que apaguei e quando voltei a mim ela estava a dissertar sobre como eu nunca lhe dou ouvidos ou algo do género, não sei bem pois tinha estado a pensar naqueles horríveis calamares e, por breves momentos, nos meus novos azulejos de casa-de-banho. Finalmente ganhei coragem, ou foi isso ou a dor de barriga era mesmo só dos calamares, e pedi-lhe para ser sincera comigo e dizer-me afinal de contas qual era o verdadeiro problema. Ela surpreendeu-me dizendo que o problema era sexo. Disse-me que na realidade não éramos compatíveis, algo que me deixou estupefacto. Balbuciei algo que soou mais ou menos como “Zmmmfffshhhgrough!” mas ela não entendeu. Porquê tanta incompreensão? Por momentos ainda pensei estar num filme do Lars Von Trier ou num videoclip da Bjork. Não me contive e gritei exigindo saber qual era o problema. Se, afinal de contas, até gostamos dos mesmo autores neo-góticos austríacos e temos a mesma opinião acerca de lulas congeladas, como era possível não sermos compatíveis? Que mais poderia querer ela? O que me faltava? Somos praticamente gémeos caraças! Eu o Danny e ela o Arnold. A dupla perfeita. Mais calmo sentei-me. Ela olhou para mim e disse-me que tinha recentemente encontrado uma velha amiga dos tempos de faculdade e que alguns sentimentos tinham regressado. Que se iria assumir como lésbica. Disse-lhe que nunca me importei com essas coisas e que, por mim, ela podia ser o que quisesse. Lésbica ou cabeleireira, cada um escolhe a profissão que quer. Afinal vivemos num país livre. Ela acusou-me de ser pouco inteligente. Perguntei-lhe porque dizia isso e mostrei-lhe o jornal de hoje. Fiz questão de lhe mostrar as palavras cruzadas todas feitinhas. Achas que isto é obra de alguém pouco inteligente? – perguntei. A resposta que obtive foi: Preencheste o Sudoku com letras Alfredo! Já agora, ser lésbica quer dizer que eu gosto de mulheres. Quero ter relações íntimas mas com mulheres percebes?
E foi neste momento que não aguentei mais, pulei da minha cadeira, abracei-a e disse-lhe suavemente ao ouvido enquanto lágrimas me escorriam pela face: Querida… eu também! Eu também! Somos tão iguais!
Ela afastou-me com um empurrão e saiu do restaurante a correr. Ainda lhe tentei dizer que havia uma casa-de-banho dentro do restaurante mas acho que ela não me ouviu. Malditos calamares!
CP

terça-feira, julho 17, 2007

Trabalhos forçados

Custa-me ouvir as notícias de que pessoas com doenças terminais ou altamente desgastantes são obrigadas a trabalhar até, muitas vezes, à sua prematura morte.
Custa-me ouvir estas notícias mas a verdade é que elas não me espantam. Tendo em conta que vivemos num país no qual o Estado claramente padece de múltiplas doenças mas ainda vai dando sinais de vida (nem que seja quando é altura de pagar impostos), não esperava outra atitude.
CP

quinta-feira, julho 12, 2007

Odores afrodisíacos

É tudo uma questão de economia. O detergente custa dinheiro e portanto a minha pergunta para vós é: a partir de que quantidade de louça é que se justifica deitar detergente no esfregão? Pergunta tramada, não é? Porque há contas para pagar (designadamente as encomendas de banda desenhada que chegam ao fim do mês) e há que poupar dinheiro, não se pode desperdiçar o ordenado assim de qualquer maneira. Portanto, justifica-se a pergunta. Quando recorrer ao detergente? Para um prato e dois talheres? Para uma tijela de sopa e uma colher? É que se uma pessoa deitasse umas gotinhas e a coisa desse... Mas não! Para criar espuma não bastam duas cuspidelas! É preciso dar-lhe com convicção! E por isso, depois de cálculos rigorosos feitos à vontade ao longo de três anos cheguei à conclusão que só a partir da quarta refeição é que se justifica mandar-lhe com o bendito do coiso.
Mas nisto passa-se mais ou menos uma semana, semana e meia, porque nem sempre fazemos refeições a sério ao jantar (lendo-se por «a sério» as que metem prato e talheres - sim, porque depois há as refeições que só metem prato, mas que depois não contam para justificar o uso do detergente), ao contrário, por exemplo, das nossas irmãs. E como Deus, na sua infinita sabedoria, achou por bem fazer os irmãos mais velhos criados das irmãs mais novas, ao fim de duas semanas a cozinha de uma pessoa cobre todo o campo odorífero que a mãe natureza e mais além pode proporcionar. E assim pude descobrir como é possível a geração espontânea de fungos dentro de água a partir de restos de ovo mexido, conhecimento pelo qual fiquei tão reconhecido que decidi partilhar com todos vós. Obrigado por me ouvirem.

ML

P. P. (ou seja, post postum): Lamentavelmente, não me lembrei de tirar uma foto que fizesse justiça ao espectáculo acima descrito. Mas podem visitar estes nossos (pronto, meus, e daí podem ficar a conhecer um pouco dos meus hábitos caseiros) posts mais antigos: A Sopa e A Sopa 2. Enjoy, my children!

quarta-feira, julho 11, 2007

The manly way

Às vezes é fácil compreender as opções de quem faz publicidade. Tomem o caso da Joana, da Rita e da Teresinha, por exemplo (também conhecidas como as meninas da Netcabo, ou a Teresinha e as outras duas). Há uma razão clara para terem sido escolhidas mulheres para a gravação do anúncio. Porque quando outras mulheres vêm o anúncio imediatamente reviram os olhos e comentam a óbvia acefalia do alvo pretendido, desinteressando-se do produto e deixando a questão da adesão aos homens. Trigo limpo, porque depois de um anúncio daqueles qualquer homem fica à espera de abrir a caixa e ver sair de lá a Teresinha, qual génio da lâmpada a dizer que temos direito a três favores sexuais a serem realizados por ela própria.
Agora imaginem que a Netcabo tinha pensado em contratar o Rúben, o Tiago e o Carlitos. A imagem de três gajos encostadinhos uns aos outros a olhar lascivamente para a câmara e a balbuciar «trim, trim» imediatamente causaria acessos de repulsa junto de outros homens, privando a Netcabo de metade dos seus potenciais compradores, que se recusariam a levar para casa uma caixa de onde pudesse sair um demónio que, ou iria certamente possuir as suas mulheres, ou os privaria do último reduto da sua masculinidade.


(Ela não é absolutamente linda...? CP, HS, voltei a apaixonar-me!! E agora posso vê-la sempre que quiser no blog! Nhiiaahahaahah!!!)

ML

terça-feira, julho 10, 2007

A chama - versão idílica

Essa tão linda intenção de amizade, CP, faz pensar nas fotografias que andam espalhadas pelo hi5 nos perfis de algumas jovens com os títulos «amigas de sempre, para sempre...». As reticências parece que convidam a que uma pessoa complete, escrevendo: «...e depois meteu-se um gajo pelo meio e deu cabo de tudo».

ML

Não que eu ande a ver perfis de raparigas mais novas que eu. Não intencionalmente. Aliás, nem se pode dizer, propriamente, que eu frequente o hi5. Regularmente, de qualquer modo. Convenhamos.

segunda-feira, julho 09, 2007

Voltar a acender a chama

Acerca deste fenómeno das comunidades virtuais, que já não é assim tão novo como por vezes os meios de comunicação querem fazer-nos crer, do qual o Hi5 ou o Myspace são exemplos, há uma justificação que é frequentemente dada para o seu uso e que me deixa algo preplexo. Refiro-me a algo que se pode ler numa miríade de "profiles" espalhados por esses sites e que pode ser resumida na seguinte frase "Pretendo reencontrar velhos amigos e colegas.". Ora, sendo louvável sem dúvida este desejo de querer reavivar velhos laços, não acham que houve um motivo pelo qual essas "velhas amizades" nunca mais vos deram sinal de vida?
CP

sábado, julho 07, 2007

Dúvidas existenciais em desenhos animados


Hoje ao almoço:

"Vocês lembram-se do D'Artanham?! O meu mosqueteiro favorito sempre foi o Aramis. "

Fiquei chocada: o Aramis afinal era uma ELA!



Serei eu uma lésbica feminista?




INCS

Ode ao Verão

Ai Verão,
Ai mosquitos irritantes de Verão
que me picam noite sim e noite não.
Picadas que fazem com que os meus braços,
braços brancos como os dos cámonos que p'rá 'qui andam no Verão,
se tornem iguais aos braços de um toxicodependente
com problemas de visão.
Ai Verão... Verão...
CP

quinta-feira, julho 05, 2007

Diário de Alfredo (II)

Querido diário, já não escrevo há muito porque mais uma vez me envergonhei. Sempre ouvi dizer que se pedirmos um desejo ao avistar Vénus, esse desejo se torna realidade. Anteontem à noite olhei para o céu e avistando aquele brilhante planeta, fechei os olhos e pedi aquilo que sempre quis, encontrar o verdadeiro amor.
Quando abri os olhos reparei que o planeta já não estava lá... Ohei para todo o lado em desespero e finalmente avistei aquele brilho característico mas mais à esquerda do sítio onde deveria estar. Tinha pedido o meu desejo a um avião que estava a passar.
Contemplo a hipótese de me suicidar através do encravamento de unha. Parece-me, além de apropriado, eficaz.
CP

terça-feira, julho 03, 2007

Comentários


Por aqui para as tiras da Arya.

ML

domingo, julho 01, 2007

Desabafo domingueiro

Waterworld, um filme com Kevin Costner, foi um autêntico fracasso de bilheteira. Hoje tive a oportunidade de o rever e penso que Waterworld foi um fracasso por falta de visão. Não por falta de visão dos realizadores (Kevin Reynolds & Kevin Costner) ou dos argumentistas (Peter Rader e David Twohy) mas sim por falta de visão por parte do público. O que o público claramente não conseguiu perceber é que é preciso arte e talento para conseguir fazer com que um filme feito em 1995 se pareça tanto, quer ao nível dos efeitos especiais como das actuações, com um filme feito em 1959 como por exemplo o "Attack of the Giant Leeches". É claro que por outro lado, tendo em conta que é um filme "artístico" seria de esperar que fosse um flop... mas nesse caso (drum roll please...) porque é que não passou no Nimas?
CP