Jacinto Mascaranhas - Uma Lição de Vida

Escrever comédia ou apenas textos com alguma piada é uma tarefa mais complicada do que parece. Deixo-vos um exemplo de vida que para sempre me marcou. Refiro-me ao “comediante” Jacinto Mascaranhas. Não podendo referir aspectos mais felizes de uma vida marcada pela desgraça, irei expor apenas a grande lição que este senhor nos deixou: por vezes mais vale estar calado!
O seu nome foi-lhe dado em homenagem a seu avô, o pirómano Jacinto Josué e cedo se percebeu que, tal como o seu avô, estava destinado a grandes feitos. Com apenas 6 anos, o pequeno Jacinto Mascaranhas conseguiu levar a sua avó à loucura quando resolveu ler em voz alta toda a colecção das revistas Gina pertencentes ao seu avô. A avó sucumbiu enquanto Jacinto lia uma carta de um leitor, na qual descrevia uma fantasia sexual que envolvia duas renas, um fato de macaco e uma panela de pressão. Com 12 anos o jovem aspirante a comediante já fazia as delícias de toda a sua turma e cedo foi nomeado “O Palhaço” pelos seus colegas. Muitos outros nomes haveriam de estar associados a Jacinto, nomes como: “Imbecil”, “Incrivelmente Parvo”, “Otário”, Palhaço sem piada nenhuma”, “Anormal”, entre muitos outros.

Foi com 21 anos que gravou o seu hit single “Judeus – Quem precisa deles?”, disco que fez muito sucesso na cena underground alemã e em diversos bairros suburbanos em Portugal. Foi logo convidado para actuar na concentração White on White mas devido a incompatibilidade horária não foi possível chegar ao palco a horas. Ao que parece os organizadores não se conseguiram entender com os agentes da autoridade e tiveram que acabar a concentração mais cedo que o previsto. Mas Jacinto não se deixou abater e um ano mais tarde conseguiu penetrar nas ondas de rádio Texanas com o seu single “A world without fags”. Foi a primeira experiência de Jacinto em terras estrangeiras e segundo as palavras do próprio “Cantar em inglês abriu-me muitas portas assim como a cabeça várias vezes. Os fãs americanos são completamente loucos e atiram-se logo a uma pessoa com paus e pedras em riste. Enfim…maneiras de ser não é?”. Não percebendo o carinho dos seus fãs, Jacinto regressa a Portugal apenas para descobrir o seu país num estado de declínio humorístico. Declínio que jurou “combater mesmo que o levasse à morte”, afirmam alguns dos seus amigos que exigem permanecer anónimos. Infelizmente tal aconteceu num fatídico sábado à tarde à saída de uma grande superfície comercial. Enveredando o seu fato de treino verde e roxo e as suas sapatilhas brancas, Jacinto apenas queria comprar umas pizzas congeladas e uns douradinhos. Infelizmente o destino reservara-lhe a ele um lugar no congelador da morgue do Hospital Santa Chorona em Melgaço.

Jacinto Mascaranhas ficará para sempre conhecido como o homem que cunhou frases idiomáticas como: "Não percebo porque não haveremos de gozar com os deficientes! Afinal de contas, eles são tão engraçados!" ou "Não sei se já repararam mas os surdos-mudos fazem uma barulheira enorme quando "falam" uns com os outros! Era de esperar que fossem ligeiramente mais caladinhos, principalmente os mudos!". Fã incondicional da Guerra das Estrelas e ávido coleccionador de action figures, Jacinto Mascaranhas não conseguiu evitar juntar o mundo da comédia (ou das frases com piada como ele dizia) ao mundo da Guerra das Estrelas, brindando-nos com a frase que o imortalizou e o levou à morte por espancamento no parque de estacionamento do hiper-mercado Continente na Junqueira, “Sabem quem é o mais famoso surdo-mudo? Nota-se logo pela maneira de falar… É o Chewbacca!”.
Que a vida trágica deste senhor nos sirva de lição a todos nós que queremos ter piada!

CP